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Hospitais da rede pública do Estado do Rio passam a utilizar cola de fibrina

Notícia publicada em: 02.06.2010

Produto reduz em 50% o tempo de recuperação do pós-operatório

Os pacientes atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) do Rio de Janeiro já começaram a ser beneficiados com o primeiro lote de cola de fibrina produzido no país pela Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia). O novo produto, que auxilia na sutura interna dos tecidos e reduz o tempo de recuperação à metade, é distribuído pela Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec), através do Hemorio, parceiro da estatal na elaboração da cola.

A cola, 100% nacional, pode ser utilizada em cirurgias ortopédicas para próteses de quadril e de joelho; neurocirurgias para prevenção e tratamento de fístulas liquóricas; cirurgias plásticas, cardíacas, vasculares, otorrinolaringológicas, odontológicas (sobretudo para pacientes com problemas de coagulação, como a hemofilia) e de fígado, incluindo transplante hepático. A grande vantagem do uso é a redução de sangramento e a melhora da coagulação. A cola de fibrina é feita a partir de componentes de sangue liofilizado (sem água) e é um agente hemostático. Não há restrição para o uso do produto, que pode ser aplicado em crianças, adultos e idosos.

O Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN) foi o primeiro a solicitar o produto. A unidade realiza cerca de 100 neurocirurgias por mês e a cola é utilização em cerca de 20 cirurgias. O HEAPN recebe mensalmente 20 frascos de 4 mililitros. Cinquenta e oito pacientes já foram beneficiados pelo produto em cirurgias de aneurisma cerebral, tumor medular, tumor cerebral, fístula liquorica, artrodese em trauma raquimedular e cirurgia dos nervos periféricos.

– No caso da neurocirurgia é feita a sutura e a cola é sobreposta aos pontos para vedar completamente a membrana dura-máter, evitando a saída do liquor (ou líquido céfalo-raquidiano), que pode provocar dificuldade na cicatrização com consequente infecção. Esse vazamento pode levar à diminuição da pressão e/ou volume liquóricos, provocando deslocamento e tração de estruturas intracranianas -, explica o chefe da Neurocirurgia do Hospital, Flávio Falcometa.

No Hemorio, a cola é utilizada desde 2005 no serviço de odontologia. O chefe do setor, Wellington Cavalcanti, enfatizou que o produto é o mais complexo dos hemoderivados, pois reproduz o último estágio da coagulação, agindo como cola, hemostático e acelerador do processo de cicatrização. A concentração é 20 vezes maior do que a do plasma comum. De acordo com Wellington, a quantidade utilizada para um procedimento de extração dentária simples é de apenas 1 ml.

– Trabalhei por diversos anos com a cola importada e já pude notar que a nova cola, produzida no país é mais prática, por ser líquida, e já vir congelada. O fato de não necessitar de manuseio (mistura do medicamento em pó com a água destilada) evita o risco de contaminação -, esclarece Wellington que já utilizou a cola nacional em 100 pacientes no Hemorio.

De acordo com a diretora geral do Hemorio, Clarisse Lobo, o produto se destaca pela segurança, praticidade, qualidade e a diminuição do tempo de permanência do paciente nos centros cirúrgicos e enfermarias.

– A utilização da cola de fibrina em cirurgias de alta complexidade faz com que o paciente permaneça menos tempo nos centros cirúrgicos por causa da redução do sangramento, o que diminui o risco cirúrgico e o período de recuperação do paciente. A redução do sangramento faz ainda com que o indivíduo utilize menor quantidade de sangue e componentes durante o ato cirúrgico, promovendo o uso racional e otimizando os estoques. A alta mais precoce permite a liberação dos leitos hospitalares para que a população tenha cada vez mais acesso a procedimentos complexos -, explica Clarisse Lobo.

A cola de fibrina distribuída pela Hemobrás é fabricada com plasma de, no máximo, três doadores, e passa por um método de inativação viral, que elimina possíveis vírus, reduzindo riscos de contaminação. O produto é submetido, ainda, a cinco testes de biologia molecular para identificar os vírus HIV, das hepatites A, B e C e o parvovírus B19. A apresentação do material é na forma líquida, em frasco de 4 ml. O produto pode ser usado imediatamente após seu descongelamento, que ocorre em cinco minutos.

O diretor técnico da Hemobrás, Luiz Amorim, esclarece que a cola de fibrina tem uso restrito no Brasil, embora seja encontrada há cerca de uma década nos hospitais, principalmente nos particulares.

– No Brasil são utilizados três litros de cola de fibrina por ano, contra 500 litros dos Estados Unidos, por exemplo. Com a produção da Hemobrás, o fornecimento do produto aumentará de forma significativa, já que haverá no mínimo cinco litros disponíveis a partir da produção local, beneficiando assim um grande número de pacientes dos hospitais públicos que hoje não tem acesso ao medicamento -, pontua Amorim.

A Hemobrás tem capacidade de produzir 10 litros da cola por ano, o suficiente para atender entre sete e dez mil pacientes. O motivo para a restrição da cola no país é custo do produto importado, que varia de R$ 500 a R$ 1 mil por mililitro. O Ministério da Saúde e a Hemobrás ainda estão negociando o valor do mililitro da cola de fibrina nacional. O preço preliminar do mililitro será inferior a R$ 350.

Texto produzido em parceria: Hemobrás, Hemorio e Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil- Sedesc/RJ