Notícia publicada em: 03.06.2010
O economista pernambucano Romulo Maciel Filho é o novo presidente da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). A nomeação para o cargo foi publicada hoje (9/10) no Diário Oficial da União (DOU). Ele, que era o representante do Ministério da Saúde (MS) no Conselho de Administração da estatal desde novembro de 2008, assume o comando da empresa no lugar do hematologista mineiro João Paulo Baccara, cuja gestão começou em 2005 e terminou em setembro passado. Natural do Recife, Maciel Filho, 51 anos, é servidor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ligada ao MS, desde 1986. Possui mestrado em Planejamento e Gestão de Políticas de Saúde pela Leeds Metropolitan University (1997) e doutorado pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/Uerj), concluído em 2007.
O novo presidente da Hemobrás tem uma trajetória técnica, sem filiação a partido político. Ao longo de sua carreira, exerceu várias atividades de gestão no setor público. Seu mais recente cargo foi de vice-presidente de Desenvolvimento Institucional e Gestão do Trabalho da Fiocruz, no Rio de Janeiro, de fevereiro a 31 de agosto deste ano, quando se desligou da função para assumir a Hemobrás, a convite do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. De maio de 2007 a dezembro de 2008, atuou como assessor especial de Temporão em Brasília. Ainda no MS, foi diretor da Secretaria de Políticas de Saúde, de 1999 a 2000, e gerente administrativo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de 1998 a 1999, sendo um dos responsáveis por sua fundação.
Foi diretor do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), a Fiocruz de Pernambuco, de 2001 a 2005. Ao término do primeiro mandato, foi reconduzido ao cargo, em que permaneceu até abril de 2007. Trabalhou como vice-diretor administrativo da Fiocruz de Pernambuco de 1993 a 1997. Figurou, ainda, como um dos fundadores e coordenador do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva (Nesc) dessa unidade da Fundação, de 1989 a 1993.
De 2003 a 2006, Maciel Filho atuou, paralelamente à gestão da Fiocruz de Pernambuco, como vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e, de 2002 a 2007, como membro do Conselho de Administração do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Biomanguinhos), a unidade produtora de vacinas e kits de diagnóstico da Fiocruz.
Na sede da Fundação, no Rio de Janeiro, foi chefe de gabinete do presidente Paulo Buss, de 2000 a 2001, além de assessor do presidente Sergio Arouca, de 1988 a 1989, período em que participou do projeto de modernização administrativa da instituição, que deu origem ao modelo de gestão participativa vigente até hoje. Também na capital fluminense, atuou como assessor chefe de Orçamento da Secretaria Municipal de Saúde, de 1984 a 1985.
SOBRE A HEMOBRÁS – A Hemobrás foi criada em 2 de dezembro de 2004 e teve seu estatuto aprovado em 28 de março de 2005. Sediada em Brasília, conta com um escritório regional no Recife, pois sua fábrica funcionará em Pernambuco. A estatal tem três diretores: administrativo financeiro (função acumulada pelo presidente); técnico, Luiz de Melo Amorim (reconduzido ao cargo por mais quatro anos); e de assuntos estratégicos, Augusto César de Carvalho. Seu corpo funcional é formado atualmente por 63 trabalhadores, sendo 23 funcionários públicos, aprovados no concurso realizado em 2008 para 85 vagas. Outros concursados devem ser convocados até o ano que vem. Também são aguardadas outras seleções para compor o quadro da empresa, que terá um total de 362 funcionários públicos.
Estratégica para o Sistema Único de Saúde (SUS), a empresa produzirá seis derivados do sangue – albumina, concentrados dos fatores VIII e IX, imunoglobulina poliespecífica intravenosa, fator de von Willebrand e complexo protrombínico – produtos que geram um custo de R$ 600 milhões em importações por ano aos serviços públicos e privados. Os hemoderivados deverão atender cerca de 7 mil pacientes com hemofilia do Sistema Único de Saúde (SUS), beneficiando, também, portadores de doenças como aids e câncer.
Considerada a mais moderna no seu segmento na América Latina, a fábrica da Hemobrás começou a ser construída neste ano e será uma das âncoras do polo farmoquímico de Goiana, município da Zona da Mata Norte de Pernambuco, localizado a 63 quilômetros do Recife. O custo da planta, situada em um terreno de 25 hectares, está avaliado em R$ 327 milhões. A fábrica terá capacidade para fracionar 500 mil litros de plasma, provenientes de 4 milhões de doações de sangue por ano no país. Para produzir os hemoderivados, a estatal contará com a tecnologia da empresa francesa Laboratoire Français du Fractionnement et des Biotechnologies (LFB), adquirida em licitação por R$ 16 milhões e pagamento de 5% de royalties por dez anos. A expectativa é que a unidade fabril entre em operação em 2011.
A estatal não se resume à futura linha de produção de Goiana. Ainda neste ano, produzirá a cola de fibrina líquida em parceria com a Fundação Hemope de Pernambuco. O produto é uma cola biológica, para uso local, capaz de reduzir ou deter hemorragias em cirurgias cardíacas, vasculares, ortopédicas, urológicas, plásticas, transplantes, e cirurgias odontológicas em pacientes com hemofilia. O custo médio de um mililitro (ml) de cola de fibrina industrial gira em torno de US$ 250 (R$ 434,50, com cotação do dólar de ontem). Em média, um paciente, quando precisa desta cola, usa de 0,5 a 8 ml do produto.
A empresa também desenvolve pesquisas para geração de novas tecnologias e produtos, atua na formação de recursos humanos e estabelece convênios técnico-científicos. Ao longo destes anos, firmou parcerias com unidades da Fiocruz no Rio de Janeiro (Biomanguinhos), no Recife (Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães) e em Curitiba (Instituto Carlos Chagas), com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Entre os projetos, estão: o desenvolvimento de testes de ácido nucléico (NAT) que possibilitam a detecção dos vírus HIV e HCV (hepatite C) no sangue de pacientes recém-infectados; a validação de testes para o diagnóstico de doença de Chagas – importante para evitar a transmissão via transfusão de hemoderivados -; e o desenvolvimento de nanotecnologia com o objetivo de padronizar testes nos serviços de hemoterapia para HBV, HCV, HIV, HLTV, além de sífilis e doença de Chagas.
A Hemobrás tem, ainda, papel estratégico com o desenvolvimento regional. Algumas ações desenvolvidas em Goiana são: a implantação dos quiosques do cidadão em parceria com o Ministério da Integração Nacional, visando à inclusão digital; o diagnóstico situacional da saúde do município, por meio de um trabalho de consultoria; e o projeto de criação de um Banco de Leite Humano, acertado em reunião com o MS e com a Secretaria de Saúde de Goiana.