Representantes de 55 hemocentros do país se reuniram na última semana para discutir formas de aumentar o recolhimento de plasma no Brasil e de fortalecer a hemorrede. Participaram dos encontros os hemocentros que estão qualificados a fornecer plasma à Hemobrás e, dessa forma, contribuem com a produção dos medicamentos hemoderivados que são fornecidos ao Sistema Único de Saúde (SUS). O “Diálogo em Boas Práticas” foi organizado em parceria pela Hemobrás e Octapharma e aconteceu em Brasília nos dias 25 e 26 e em São Paulo nos dias 29 e 30 de maio.
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Representantes do Hemocentro Regional de Juiz de Fora (MG) participaram do evento. O serviço foi qualificado em junho de 2022 e, já no mês seguinte, foram enviadas à Hemobrás mais de 13 mil bolsas de plasma. Júlio Cesar Pereira é responsável pelo fracionamento e pela prova cruzada e distribuição na unidade. Ele comemora a destinação correta e o aproveitamento do plasma para fracionamento industrial. “Tudo é uma engrenagem, é de super importância você [hemocentro] estar qualificado para enviar o plasma para a Hemobrás, porque você entra no aspecto de estar garantindo também um atendimento para toda a população. Muito do que a gente está decidindo aqui afeta a população, que é quem mais precisa.”
Já o Hemocentro de Goiás (Hemogo) é recém-qualificado e deve enviar a primeira remessa de plasma à Hemobrás já neste mês de junho. De acordo com a diretora técnica da unidade, Ana Cristina Novaes, falta de estrutura física e de condições técnicas impediram a destinação do plasma excedente anteriormente. “A qualificação foi extremamente importante, não somente para não haver descarte do plasma e reduzir custo com o tratamento, mas também dar uma destinação correta a essa matéria-prima tão valiosa”, comemora a diretora.
Com os encontros, os participantes puderam entender aonde a Hemobrás quer chegar e o papel de destaque que a hemorrede brasileira tem nessa missão. Para serem considerados aptos a fornecer plasma para fracionamento, os serviços de hemoterapia de todo o país passam por auditoria para verificar os requisitos de qualidade para a produção dos hemoderivados. Além de garantir a segurança para os pacientes que utilizam os medicamentos, a avaliação pode trazer melhorias nos processos internos dos hemocentros. “O fato de você ter uma auditoria que custa caro e que, nesse caso, é financiada pela Hemobrás sem nenhum ônus para a gente, é muito bom. Nos hemocentros é tudo muito padronizado, apesar disso, às vezes a gente acha que está fazendo tudo certo, mas não tem a visão externa. Essa visão externa da auditoria trouxe pontos de melhorias do dia a dia que a gente não sabia, mas que precisavam de ajustes”, explica a hematologista Melka Barros, diretora técnica do hemocentro da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Na programação houve apresentações sobre a produção dos medicamentos, sobre os processos de auditorias, além do compartilhamento de casos de sucesso de serviços de hemoterapia do país. Essa troca de experiências entre especialistas da hematologia deve servir para a implantação de rotinas que podem aumentar o aproveitamento do plasma. O biomédico Fábio de França Martins é um dos diretores da Fundação Hemocentro de Brasília e foi um dos palestrantes do encontro. “Nesse evento nós temos a oportunidade de trocar experiências, de mostrar o que o nosso processo tem, o que é que os outros oferecem, para que a gente possa otimizar os nossos processos de trabalho, mesmo com as dificuldades que a gente sabe que existem. (…) A produção do plasma é algo rotineiro, o acondicionamento desse plasma e o processo devem ser feitos de uma forma muito qualificada, então a gente precisa de equipamentos, de capacitação dos servidores, de insumos de boa qualidade, tudo tem que ser feito de uma forma bem padronizada para que a gente consiga manter a qualidade das propriedades do plasma”, define Martins.
DIÁLOGO – A ideia do evento foi a de compartilhar experiências através do diálogo entre os hemocentros parceiros, a Hemobrás e a Octapharma. “Daqui para a frente só temos que fazer mais e melhor na comunicação que temos com a hemorrede. A hemorrede tem estado muito isolada e, quando uma estrutura está toda ela muito isolada em pequenos polos, perde muita força”, avalia Samuel Maurício, vice-presidente e gerente-geral da Octapharma no Brasil. Nos quatro dias de encontro foi possível discutir pontos de boas práticas, como a padronização de procedimentos de coleta, a capacitação de profissionais envolvidos na coleta de plasma, a melhoria da logística e do transporte do material, bem como a implementação de sistemas de qualidade e rastreabilidade. Essas medidas visam garantir a segurança e a qualidade dos medicamentos produzidos a partir do plasma coletado e caminham no sentido de contribuir com a produção nacional dos hemoderivados. “A Hemobrás e o Ministério da Saúde reconhecem a relevância dessa parceria estratégica com os hemocentros brasileiros qualificados, pois a ampliação da coleta de plasma no país resultará em uma maior autonomia na produção de medicamentos hemoderivados, reduzindo a dependência de importações e garantindo o acesso dos pacientes a tratamentos essenciais”, finaliza o presidente da Hemobrás, Antônio Edson de Lucena.
SERVIÇOS DE HEMOTERAPIA QUALIFICADOS – Durante os encontros foi realizada a entrega oficial de certificados aos serviços de hemoterapia qualificados para fornecimento do plasma excedente para uso industrial à Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia. A Hemobrás tem a competência na gestão do plasma brasileiro, de acordo com portaria do Ministério da Saúde. Outros hemocentros estão em processo de auditoria e poderão receber o mesmo certificado, ampliando o número de hemocentros qualificados.
Comentários (2)
Edmar Acioli
01/06/2023Acho importante deixar em destaque a importância do altruísmo dos doadores de sangue(plasma) para ratificarmos o que está prescrito em nossa Constituição de 1988 em seu artigo 199 § 4º para que seja seguida e não sofra ação de Projetos de Emendas Constitucionais com fins apenas lucrativo onde toda sociedade brasileira sairia perdendo.
Raquel Gois Bastos
02/06/2023Eventos desse tipo são fundamentais para que os serviços de hemoterapia troquem experiências, compartilhem suas dificuldades e, também, as experiências de sucesso. Além disso, possibilitam que hemorrede e Hemobrás se aproximem cada vez mais e sigam juntos em busca do objetivo maior que é a produção de medicamentos de qualidade para os pacientes do SUS.
Parabéns!!!