Notícia publicada em: 26.11.2010
O sangue doado nos hemocentros brasileiros beneficia milhões de pessoas todos os anos por meio da transfusão, mas um de seus componentes em especial pode ir além. Cerca de 70% do plasma não é aproveitado na prática transfusional, devido à baixa demanda natural, mas pode ser transformado em medicamentos para salvar a vida de pessoas com hemofilia, câncer, aids, cirrose e outras doenças infecciosas graves assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por isso, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) vem reforçando a infraestrutura dos serviços de hemoterapia, garantindo o melhor aproveitamento desta matéria prima. No próximo dia 17, a estatal ligada ao Ministério da Saúde (MS) começa a instalar, em 25 hemocentros, 25 sistemas de monitoramento da cadeira do frio, equipamentos que mantêm os componentes do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma) refrigerados em temperaturas específicas para garantir sua conservação. A instalação destes sistemas está orçada em R$ 560 mil, recursos obtidos pela Hemobrás em convênio com o MS.
[FOTO2+] Todos os 25 serviços de hemoterapia estão previstos para ser contemplados até junho de 2011. O primeiro estabelecimento a receber os equipamentos será a Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope). Cada sistema vem com um software específico, sonda, aquisitor de dados, computador e impressora. Este programa e os equipamentos são essenciais para monitorar o congelamento do plasma em um freezer a -80ºC e estocado em uma câmara fria a -20ºC, além de outros equipamentos. O sistema também verifica a temperatura ambiente, que tem de estar a 22º C. O monitoramento da cadeia é feito continuamente pela sonda, que envia as informações para o aquisitor de dados e estes são, automaticamente, repassados para o computador. “Se a temperatura sair da margem aceitável, o sistema avisa de imediato (à pessoa responsável pela estocagem), por alarme sonoro, email e mensagem de celular, 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana”, afirma a médica Adriana Parodi, gerente de Controle de Qualidade da Hemobrás.
O monitoramento atende a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 153/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que obriga a realização do procedimento a cada quatro horas, além de recomendar que esta atividade seja contínua. “Até porque pode haver alguma intercorrência”, pontua Adriana.
Este monitoramento possibilita à Hemobrás aumentar a qualidade e a quantidade do plasma que vem coletando nos hemocentros para enviar à França – onde ocorre hoje o beneficiamento do plasma brasileiro nos medicamentos hemoderivados mais consumidos no País (albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação VIII e IX). Em 2014, com o início do funcionamento da unidade fabril em Goiana-PE, o plasma coletado passará a ser beneficiado no Brasil, quando também serão produzidos o fator de von Willebrand e o complexo protrombínico. A fábrica da Hemobrás será a primeira do Brasil e a maior da América Latina dentro de seu segmento e terá capacidade de processar até 500 mil litros de plasma por ano.
A instalação do sistema do monitoramento da cadeia do frio faz parte de um trabalho que a Hemobrás iniciou há quatro anos, com visitas técnicas aos 79 principais hemocentros brasileiros. Sendo detectada a necessidade, a empresa cede, para uso, equipamentos específicos para o monitoramento da cadeia do frio, o congelamento e o armazenamento do plasma.