Empresa realiza pesquisa inédita no Brasil para produção de hemoderivado por engenharia genética
Notícia publicada em: 28.09.2010
A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) iniciou este ano uma pesquisa para a produção de um medicamento de suma importância para as pessoas com hemofilia atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que, por algum motivo, não mais respondem ao tratamento convencional para ajudar a coagulação sanguínea. Trata-se do fator VII ativado recombinante (rFVIIa), atualmente fabricado por apenas um laboratório em todo o mundo e importado pelo Ministério da Saúde (MS), que, só em 2008, despendeu R$ 29 milhões na aquisição deste remédio. O fator VII é uma proteína naturalmente encontrada no sangue humano, mas em quantidade insuficiente para ser transformado em medicamento, por isso precisa ser reproduzido a partir de técnicas de engenharia genética.
Para realizar o estudo, a Hemobrás fechou parceria com a Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos, laboratório situado na cidade de Itapira, em São Paulo. O projeto de desenvolvimento do rFVIIa está orçado em R$ 30 milhões, sendo R$ 12,6 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 16 milhões investidos pelo laboratório Cristália e R$ 1,4 milhão pela Hemobrás. O projeto de pesquisa está previsto para terminar em 2013, com início dos testes clínicos em 2014. Se obtiver sucesso nesta fase, o produto será registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e começará a ser fabricado no laboratório da Cristália, que fornecerá o medicamento ao SUS, com valor até 20% abaixo do que é praticado hoje no mercado – a quilo-unidade (unidade de medida internacional utilizada para alguns medicamentos) custa cerca de R$ 27 -, até que a Hemobrás tenha condições próprias de fabricação.
Com essa produção, o Brasil deve se tornar autossuficiente em rFVIIa. “A Hemobrás está cumprindo uma de suas funções sociais, que é ampliar o acesso dos usuários do SUS a esses tipos de medicamentos, buscando soluções alternativas e complementares ao uso de fatores de coagulação derivados de plasma”, afirma o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Hemobrás, o farmacêutico Francisco Mendonça Júnior.
A hemofilia, que pode ser tipo A ou B, é uma doença grave que compromete a coagulação sanguínea. Atualmente, cerca de 11 mil pessoas com hemofilia são atendidas exclusivamente pelo SUS. O tratamento convencional se dá com uso dos fatores de coagulação VIII e IX, obtidos através do fracionamento do plasma humano. Porém, destas pessoas, cerca de 700 desenvolvem inibidores no organismo que neutralizam a eficácia desses medicamentos, demandando alternativas para levar uma vida saudável. Em alguns casos específicos, a recomendada pelo Ministério da Saúde é o uso do rFVIIa.
PESQUISA – A Hemobrás coordena, orienta e executa projetos de pesquisa e desenvolvimento visando à criação de novos produtos e processos. O objetivo estratégico é viabilizar a articulação política e científica, além da integração, da divulgação e do desenvolvimento das linhas de pesquisas da empresa em parceria com as instituições públicas e privadas de fomento, de ensino e pesquisa e de serviços. Atualmente, estão em fase pesquisa os seguintes projetos: Testes NAT (testes que utilizam técnicas de biologia molecular para detectar os vírus HIV e da Hepatite C (HCV) em doadores de sangue, permitindo um diagnóstico muito mais precoce destas infecções do que com métodos clássicos), Microarranjos líquidos (testes para possibilitar a detecção de um conjunto de patógenos em uma só amostra), e Fatores VIII, IX e G-CSF recombinantes (os fatores VIII e IX são utilizados para o tratamento da hemofilia tipo A e tipo B, respectivamente. O G-CSF é utilizado em pacientes tratados com quimioterapia). A produção desses biofármacos pelo Brasil diminuirá os gastos do governo federal, pois atualmente são obtidos exclusivamente por importação.
HEMODERIVADOS – A fábrica de Hemoderivados da Hemobrás está sendo construída em Goiana, a 63 km do Recife. Quando inaugurada, em 2014, irá produzir para o SUS os seguintes medicamentos derivados do sangue: albumina (tratamento de queimados, pessoas com cirrose, pacientes de terapia intensiva, entre outros), complexo protrombínico (indicado para pacientes com hemofilias A e B, tratamento de hemorragias em pessoas que utilizam medicamentos anticoagulantes e também para cirrose hepática), fator IX (de pessoas com hemofilia B), fator VIII (pessoas com hemofilia A), fator de von Willebrand (tratamento da doença de Von Willebrand, tipo de enfermidade que, como na hemofilia, o paciente tem dificuldade para coagular o sangue.