Notícia publicada em: 08.11.2012
Quatro hospitais públicos de Pernambuco serão os primeiros do País a receber a cola de fibrina produzida pela Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) no laboratório da estatal, situado nas instalações da Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope). Trata-se de um selante biológico elaborado com o plasma humano que reduz ou detém hemorragias em cirurgias cardiovasculares, hepáticas, ortopédicas e neurocirurgias. Na manhã desta segunda-feira (22/10), o presidente da Hemobrás, Romulo Maciel Filho, o secretário de Saúde de Pernambuco, Antonio Carlos Figueira, e o presidente do Hemope, Divaldo Sampaio, participaram de solenidade no Hemope, no Recife, para distribuir o produto aos hospitais da Restauração (HR), de Câncer de Pernambuco (HCP) e Oswaldo Cruz (HUOC) e ao Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape). Em um ano, estas unidades receberão 3,4 litros de cola de fibrina, o suficiente para 680 cirurgias, pois o consumo médio é de 5 mL por procedimento.
A Hemobrás, estatal vinculada ao Ministério da Saúde (MS), enviará o produto a partir de hoje (22/10) aos hospitais, sem nenhum custo direto, sendo cada remessa em média de 200 mL. Para o HR, está previsto 1 litro de cola de fibrina por ano para neurocirurgias. Para o HUOC, serão 800 mL para cirurgias hepáticas e transplantes de fígado no mesmo período. Para o Procape, serão 800 mL para cirurgias cardiovasculares ao longo dos próximos 12 meses. Já para o HCP, serão 800 mL para cirurgias de cabeça e pescoço. A expectativa da Hemobrás é, posteriormente, distribuir o selante biológico para outros hospitais públicos de Pernambuco e também de outros estados. Todas seguirão os mesmos pré-requisitos: serão selecionadas pelo MS por possuírem demanda dos procedimentos para o qual o hemocomponente é recomendado, contarem com estrutura para seu correto armazenamento e disporem de profissionais com experiência em seu manuseio.
[FOTO2+] Para Romulo Maciel Filho, este é um marco para o Brasil na capacidade da produção de hemoderivados. “Isso é efetivamente o primeiro produto da Hemobrás, e o prenúncio da construção da autossuficiência brasileira”, afirmou. O secretário de Saúde de Pernambuco ressaltou a importância da cola de fibrina para a população usuária do Sistama Único de Saúde (SUS).
“Este selante biológico vai ajudar diversos grupos de pacientes. E ainda vem para reafirmar o vanguardismo pernambucano na tecnologia do sangue, juntando esforços do Hemope e da Hemobrás”, comentou Antônio Carlos Figueira. No Brasil, atualmente são utilizados não mais do que cinco litros de cola de fibrina por ano, basicamente pela rede privada.
“Nosso plano junto ao Ministério da Saúde é produzir o suficiente para atender usuários do SUS em todo o País que antes não tinham acesso à cola de fibrina. Para 2013, a nossa previsão são 13 litros; sendo mais 14 litros em 2014 e outros 16 litros em 2015”, salienta o chefe do Serviço de Produção de Cola de Fibrina, Frederico Monteiro. “Isso é considerado uma grande quantidade, pois o uso é medido por mililitro e, em uma cirurgia para a qual há indicação de sua utilização, a média é de 5 mL, não ultrapassando 10 mL por procedimento”, explica o diretor de Produtos Estratégicos e Inovação da Hemobrás, Luiz Amorim.
A cola de fibrina não possui contraindicação ou risco de rejeição. “Ao contrário, provoca a regeneração de ossos e tecidos e a formação de novos vasos. Ela não substitui os tradicionais pontos, mas atua como um complemento, um vedador e acelerador do processo de cicatrização”, afirma o consultor científico da Hemobrás, Wellington Cavalcanti, que fará a demonstração e o treinamento dos médicos quanto ao uso do produto nas cirurgias, quando solicitado pelos hospitais beneficiados.
Até então, a cola de fibrina era obtida exclusivamente por importação e usada, sobretudo, na rede privada, pois o MS tinha dificuldade de adquiri-la devido ao alto custo no exterior – que chega a R$ 1 mil cada mL – e à baixa oferta diante da demanda mundial. A fabricação no Laboratório de Cola de Fibrina da Hemobrás, atualmente em uma área cedida pelo Hemope, será financiada pelo Ministério da Saúde. Com isso, além de oferecer qualidade internacional, a cola brasileira proporcionará economia aos cofres públicos e ampliação do acesso da população à saúde.
DISTRIBUIÇÃO – A distribuição produto será feita do Laboratório da Hemobrás diretamente para os serviços de hemoterapia das unidades de saúde, em caixas que manterão a temperatura de transporte abaixo de 20°C negativos (a mesma sob a qual deverá ficar armazenada até ser utilizada). A apresentação do material é na forma líquida, em frascos-seringa que variam de 1 mL a 6 mL. O produto pode ser usado imediatamente após seu descongelamento, que ocorre em aproximadamente oito minutos.
Saiba mais sobre a cola de fibrina da Hemobrás
O que é => A cola de fibrina da Hemobrás é um selante biológico elaborado a partir do plasma humano, que por sua vez é um dos componentes do sangue.
Como é feita => O método que a Hemobrás desenvolveu utiliza um equipamento especialmente desenhado para a produção de cola de fibrina, a partir de seis bolsas de plasma, com todas as variáveis de produção controladas. Para garantir a segurança do produto, é aplicado um método de inativação viral do plasma, além de testes de biologia molecular para detecção do genoma dos vírus HIV, HCV, HBV, HAV e Parvovírus B19 nos plasmas que serão utilizados na obtenção da cola de fibrina.
Para que serve => As situações nas quais a cola de fibrina tem sido empregada com sucesso vão desde cirurgias cardíacas, vasculares, ortopédicas, neurológicas e plásticas de alta complexidade, passando por cirurgias dentárias em pacientes com coagulopatias e tratamento de hemorragias digestivas altas.
Como é a aplicação => A cola de fibrina é normalmente usada em locais que os clínicos ou cirurgiões não têm acesso ou não têm como promover a hemostasia (coagulação) pelos métodos tradicionais, como sutura ou eletrocoagulação.
Como age no corpo humano => O selante de fibrina reproduz a fase final da coagulação sanguínea, onde o fibrinogênio é convertido em fibrina na presença de trombina, fator XIII, fibronectina e cálcio ionizado (proteínas do plasma). A trombina e o fibrinogênio promovem o “selamento” da área cirúrgica.