Notícia publicada em: 13.05.2011
A imunoglobulina, hemoderivado de maior consumo no mundo que o Brasil importa para tratar pacientes com aids e infecções, pode ser fabricada no País lançando mão de um novo método. O medicamento, que tem apresentações em pó e líquida, foi produzido em uma versão líquida a partir de uma metodologia que utiliza menos álcool e substâncias químicas diferentes do que a vendida no mercado e, melhor, com mais qualidade que as atuais. O produto inovador é resultado de uma pesquisa de mestrado realizada em Pernambuco pelo farmacêutico Antonio Edson Lucena, gerente de Fracionamento da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). A nova versão precisa de testes em larga escala e, caso tenha viabilidade técnica e econômica, poderá ser fabricada na planta industrial da Hemobrás, em Goiana-PE. A fábrica ficará pronta em 2014.
“O desenvolvimento de um método próprio pode trazer, no futuro, a soberania brasileira na produção do medicamento”, destacou Lucena. Ele conta que a nova técnica utilizou polietilenoglicol e ácido caprílico para separar a imunoglobulina de outras substâncias contidas no plasma sanguíneo, de onde ela é extraída. O uso desses componentes conferiu à imunoglobulina pureza e integridade superiores em relação ao medicamento produzido pela metodologia convencional. Mas, por ser um método experimental, além dos ensaios para avaliar a produção em larga escala também haverá a necessidade de realizar, posteriormente, ensaios clínicos com pacientes para garantir a produção de um medicamento seguro, sem reações adversas e buscar a provação dos órgãos de controle. “Todo esse processo leva de dez a 15 anos para ser realizado”, comentou Lucena.
Durante a pesquisa, três lotes piloto de 200 litros de plasma foram utilizados para chegar ao rendimento médio de 3,5 gramas de imunoglobulina para cada litro de plasma. Este resultado aproxima-se ao obtido pela indústria farmacêutica, que é de 4g de imunoglobulina por litro de plasma. Estes e outros dados detalhados sobre novo método para produção do medicamento, desenvolvido como trabalho conclusão do Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco, foram publicados na edição de outubro/dezembro do Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, divulgada em fevereiro deste ano. A pesquisa foi selecionada para compor o livro “Avaliação de Tecnologias em Saúde – Seleção de Estudos Apoiados pelo Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit)”, que está sendo editado pelo Ministério da Saúde e deve ser lançado em julho.
A imunoglobulina é uma proteína encontrada no plasma que funciona como um anticorpo, sendo responsável pela resposta do sistema imunológico à presença de organismos estranhos, como vírus e bactérias. Além de empregada no tratamento da aids e infecções, este medicamento é usado para doenças autoimunes e diversas deficiências imunológicas congênitas. Atualmente, apenas a Baxter (Alemanha), a Talecris (EUA), a CSL Behring (Austrália), a Green Cross (Coréia do Sul), a Grifols (Espanha) e o Laboratório Francês de Biotecnologia (LFB), parceiro tecnológico da Hemobrás, produzem a imunoglobulina líquida. O LFB está transferindo para a estatal brasileira a tecnologia para produção da imunoglobulina líquida e de outros cinco hemoderivados: albumina, fatores de coagulação VIII e IX, complexo protrombínico e fator de von Willebrand.
O consumo de imunoglobulina no mundo chega a 90 toneladas por ano, podendo chegar a 100 toneladas, em 2012, segundo a MBR (The Market Research Bureau Inc.). No entanto, a produção atual da indústria farmacêutica não atende à demanda crescente pelo produto no mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde importou 4 toneladas de imunoglobulina para o Sistema Único de Saúde (SUS) em 2009. A Hemobrás, quando estiver com sua fábrica em operação em 2014, deverá atender a 50% das necessidades do SUS por este hemoderivado. O restante continuará sendo importado pelo MS.